PAIS QUE AMO SEUS FILHOS!!!

"Filho, você é muito mais importante para mim do que seu pai." "Filha, você é muito mais valiosa no meu coração do que sua mãe." "Filha, não ame seu pai, despreze-o como eu e, acima de tudo, não seja como ele." "Filho, eu não consigo entender como eu poderia amar sua mãe, mas sem dúvida você importa muito mais, é melhor que ela." Embora não sejam ditas abertamente nas famílias, essas e outras frases semelhantes, às vezes, são verdades internalizadas para os pais e nutrem a atmosfera familiar de dinâmica fatal na tríade relacional mais importante que vivemos ao longo da vida: a tríade pai, mãe e filhos.

Deve-se ter em mente, primeiro, que os filhos não prestam muita atenção ao que os pais dizem; mas, registram, inconscientemente, o que os pais sentem e fazem: os filhos se tornam sensíveis à sua verdade. Entre outras coisas, porque a verdade de nossos sentimentos pode ser negada ou camuflada, mas não pode ser eliminada e, portanto, age no inconsciente coletivo do sistema familiar, no inconsciente individual e se manifesta por meio do corpo, as vezes, levando ao adoecimento. Nosso sistema familiar e o que vivenciamos nele nos constitui! É importante, portanto, que trabalhemos com a nossa verdade e a transformemos, se necessário, quando gera sofrimento em nós ou nos filhos. É óbvio que isso significa abster-se de expressões ofensivas em relação ao outro pai na frente de nossos filhos, não importa quão zangados, ou cheios de razões, estamos. No entanto, é uma conquista ainda maior trabalhar em si mesmo para restaurar o amor e o respeito para com o outro cônjuge e dar o melhor lugar para o outro pai, mesmo quando se trata de um casal infeliz ou de uma separação dolorosa e turbulenta. Lembre-se que os filhos não se separam dos pais. Para eles, os pais permanecem juntos como pais no seu coração. Os pais se separam como um casal (moram juntos ou não), mas não é possível se separar enquanto pais.

Em segundo lugar, devemos estar cientes de que as experiências e posições que tomamos nessa tríade fundamental, com os nossos filhos enquanto pais, determinarão grandes consequências, favoráveis ou desfavoráveis, em nossas vidas. Consequências emocionais, principalmente, para os filhos determinando os adultos que se tornarão: se felizes ou infelizes.
É fundamental para o futuro dos filhos que estejam bem inseridas no amor dos seus pais e que esses consigam se amar, pelo menos, respeitando-se como pais dos seus filhos. Pois um dia, no passado, escolheram-se e foram queridos para o outro como parceiro/a. E as crianças vieram depois, como fruto e consequência dessa escolha.

Escrevo sobre o amor entre pais e filhos depois de voltar muito emocionado da minha última oficina de constelação familiar. É sempre chocante para mim observar os efeitos emocionais devastadores causados pelo não cumprimento de uma regra fundamental: os pais são os primeiros na frente dos filhos e são mais importantes que eles. Além disso, é muito importante amar o outro pai, ainda, que tenhamos que aprender sobre as diferentes formas de amar: o respeito é uma forma de amor e enxergar algo do outro na criança ajuda a resgatar o respeito entre ambos.

Fico surpreso, as vezes, ao ver como os pais são direcionados e orientados para os filhos em detrimento do outro pai/mãe. E, essa atitude que, às vezes, parece razoável não ajuda a criança, porque? O infortúnio geralmente vem vestido com roupas impecáveis, mas sem amor. Os filhos não necessitam ser os mais importantes; pelo contrário, eles necessitam sentir que o pai ou a mãe são mais importantes e que os pais estão juntos como um casal, dando um ao outro o devido lugar, gerando um legado para os filhos. O grande legado que os pais podem deixar aos filhos são as atitudes de equilíbrio, entre o tomar e o dar, de respeito para com tudo e todos e capacidade de entrega de amor diante da vida!
Quando um filho é mais importante que qualquer um para um dos pais, ele não recebe um presente, mas recebe um fardo e um sacrifício. Não é fortalecedor, mas transforma-se em tristeza disfarçada de encantamento. As crianças não precisam se sentir especiais, nem ser tudo para os pais. Isso é demais! É comum que o que um pai não teve de sua parceira, de seus próprios pais, o que ele não tenha em sua família de origem ou o sonho que ele não pôde realizar, o leve ao filho. E que este, por amor, aceite o desafio (de preencher o vazio). Pelo preço, é claro, de sua liberdade e força total para seguir seu próprio caminho à sua maneira.

As crianças necessitam se sentir livres para cumprir sua missão e propósito na vida. E eles se saem melhor quando têm o apoio de seus pais e de seus ancestrais, e quando estão em ordem em relação a eles. Em vez disso, sofrem quando um dos pais despreza o outro ou ambos se desprezam. Se os pais se desprezam, a criança acha difícil não se desprezar e não se assemelhar à pior versão projetada pelo pai ou pela mãe sobre o outro. Pense em crianças que quase tiveram a função de parceiro invisível de um dos pais, que significava o todo para a mãe ou o pai, que sentiram a proibição de amar um pai que cometeu algum tipo de violência ou traição com a mãe. Nas constelações familiares, infelizmente, é comum identificar dinâmicas e resultados fatais como: doença, crime, violência, passionalidade, dificuldades oriundas dos registros deixados pela relação de casal dos pais e a geração de muito sofrimento emocional.
No fundo, uma criança não pode prescindir do amor de ambos os pais e, assim, faz acrobacias emocionais para ser leal a ambos, mesmo, imitando seu mau comportamento, seu alcoolismo, seus fracassos, loucuras, etc.

"Filho, em você eu ainda amo seu pai / mãe. Em você eu ainda o vejo e o respeito." "Filha, você é o fruto do meu amor e da minha história com seu pai/sua mãe e eu a vivo como um presente e uma bênção." "Filho, eu respeito o que você vive e como é com seu pai / mãe." "Filha eu sou, apenas, o pai / mãe, mas, conto com seu pai/mãe porque só é demais." Estas são frases que apontam para o bem-estar e a alegria das crianças. O que ajuda então? Que os filhos recebam um dos maiores presentes possíveis em seu coração: ser amadas como são e, especialmente, que seus pais se amem/respeitem enquanto pais que são, porque assim, sentem-se amadas e que amar é viável. Ao final os filhos não param de sentir que, de alguma forma, também seus pais. Ambos.

(Joan Garriga 8 de novembro de 2011)